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Repercussão econômica sobre Lula ministro da Casa Civil

O Palácio do Planalto anunciou nesta quarta-feira (16), a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro da Casa Civil, no lugar de Jaques Wagner, que será deslocado para a chefia de gabinete da presidente Dilma Rousseff.

Para analistas e economistas ouvidos pelo G1, a entrada de Lula adiciona mais dúvidas e incertezas. O mercado não descarta mudanças de direção na economia e enxerga riscos de uma guinada à esqueda da política econômica, com medidas na direção contrária ao ajuste fiscal. No momento, o único consenso é que a política continuará ditando os rumos da economia.

Confira abaixo a análise de economistas e analistas do mercado:

Alexandre Schwartsman, o ex-diretor do Banco Central e sócio da consultoria Schwartsman & Associados
Institucionalmente, considero um passo atrás. Por mais que se tente vender de que se trata de uma questão de fortalecimento do governo, a motivação principal basicamente é proteger o presidente e lhe dar foro privilegiado. O que era de alguma forma implícito se torna explícito: a presidente já não apita mais nada. Com o ex-presidente agora como uma espécie de primeiro ministro estamos replicando uma experiência do tipo da Rússia sob o Putin.
O risco de uma guinada à esquerda é muito forte, mas na minha visão há uma esperança que o Lula repita o que fez em 2002 e 2003: na hora H acabou se comportando responsavelmente. Imagina-se que o governo irá querer dar um gás no crédito, mas tudo continuará submetido sob o foco da lógica política. Não será um governo que fará Reforma da Previdência ou se preocupar com o ajuste fiscal.

Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da consultoria GO Associados
“A primeira reação do mercado é de identificar na ida do Lula uma mudança na política econômica na direção contrária ao ajuste fiscal, o que tende a gerar muito mais nervosismo e instabilidade. Mas eu seria cauteloso em dizer que isso irá acontecer, porque esse é o Lula jararaca e tem o Lula paz e amor do passado, que afinal de contas no primeiro mandato implementou políticas de ajuste. Então não devemos descartar a hipótese de reversão das expectativas. Mas no atual momento de vacas magras, com um quadro internacional totalmente diferente, com pouco raio de manobra, em que ele está sujeito a uma série de acusações e com o capital político parcialmente dilapidado, acho muito mais difícil uma transfiguração do Lula jararaca para o Lula paz e amor. Há um risco real que haja uma guinada à esquerda, o que seria péssimo para a economia e para o próprio governo. Como é um governo acuado, talvez fique difícil não lançar mão de uma política populista suicida, mas eu não descartaria a hipótese de uma tentativa de formular um consenso mínimo em torno de um ajuste”.

Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management
“A maior preocuação é querer assumir para estimular a economia, porque não existe uma fórmula. Nova Matriz Econômica, cavalo de pau nos juros, uso de reservas… Se for por essa linha, só na imaginação pode dar certo. Citou-se Henrique Meirelles [como possível novo integrante do governo], mas na minha opinião ele não compatibiliza com esse cenário. No curto prazo, a entrada de Lula só traz mais dúvidas e incertezas. Se se seguir uma guinada à esquerda, a perspectiva é muito ruim, com risco de mais fuga de capital, mais rebaixamento, e baixa ainda maior do investimento na economia. E se não for isso, fica também a dúvida de qual vai ser a fórmula mágica”. Estamos mais reféns de dúvidas do que de certezas.

Virene Matesco, professora dos MBAs da FGV
“Encaro a nomeação como uma renúncia branca — a presidente Dilma Rousseff vai delegar o cargo para o qual foi eleita ao ex-presidente Lula. Do ponto de vista econômico, Lula não tem capital político e nem apoio no Congresso para implementar medidas estruturais. Suas ações devem ser aplicadas por medidas provisórias. Segundo a proposta do PT, devem ser medidas expansionistas, com aumento de gastos e de crédito, mas com impacto de pouco fôlego. Serão estímulos de curto prazo. O governo não tem folga fiscal pois suas contas estão em frangalhos”.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos
“O mercado reagiu de maneira no mínimo inusitada aos eventos hoje de manhã. Quando ficou evidente que Lula iria assumir de vez a Casa Civil os juros longos subiram na esteira de uma pior percepção fiscal do governo. Talvez o mercado perceba hoje que dado o imbróglio político apenas o Lula pode trazer certa pacificação a Brasília. O governo Dilma acabou, isso é certo, mas o que esperar do governo Lula?”

Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados
Ainda não está claro quais serão as repercussões para a política econômica. Fala-se de uma guinada mais à esquerda, o que eu acho difícil. Há boatos também de um possível retorno doHenrique Meirelles, o que representaria uma política mais ortodoxa e uma guinada mais à direita, ainda que não se fale em reformas estruturantes. O mercado seguirá sob expectativa dos próximos passos. Por enquanto, é tudo conversa de bastidores.

 

Fonte(s): G1
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