Socorro… retornamos à década de 90! Anda circulando através das redes sociais, textos de Frei Betto e outros “intelectuais” de esquerda que voltaram a denunciar a existência de complôs golpistas contra o estado de direito, idealizado e perpetrado por “Nosferatus” neoliberais que têm seus cânticos de essência maligna entoados por meio das ondas televisivas inebriantes da Rede Globo. Agora, faltam apenas afirmarem que a malograda política econômica, que ceifa postos de trabalho e castiga o poder de compra dos brasileiros, é culpa do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Enquanto isso, a jornalista Miriam Leitão, profissional que se utiliza da pena para conjecturar seu ponto de vista, transformou-se em ícone da cólera, tanto de petistas comportando-se como torcida organizada, verdadeiros gaviões da fiel ou mancha alviverde do ativismo socialista, como também de Jair Bolsonaro, o maior expoente da direita beligerante e paranoica.
Porém, como diz o velho ditado, “desgraça pouca é bobagem”; o PSDB, do alto de seu púlpito reluzente, com peito estufado, entonação vocálica desprovida de hesitação e relutância, brada que permanecerá no governo Temer somente até o próximo escândalo ou denúncia. Isso vem ocorrendo, fundamentalmente, por estarmos vivendo em um país onde o instinto de sobrevivência da classe política, em tempos de operação Lava-Jato, impera diante da completa ausência de espírito estadista.
Nesse contexto, a esquizofrenia e o oportunismo conduzirão os partidos mais relevantes do país, de forma resolutiva e impiedosa, a um futuro pouco róseo e desprovido de louros, sendo que o principal prejudicado por essas atribulações será a própria sociedade, a qual pagará o maior preço pela degradação das relações entre instituições e mandatários de cargos eletivos. Pois, todos os cidadãos serão obrigados a conviver, no porvir, com as consequências perniciosas de terem sufragado opções exóticas e caricatas, mediante a falência moral, programática e ideológica das agremiações que tiveram o protagonismo de reorganizar a pátria no pós regime de exceção.
O Brasil precisa abandonar a condição de celeiro para ideias academicistas extravagantes e esdrúxulas, além de práticas congressuais distantes dos interesses da coletividade. Em ocasiões como essas, faz-se conveniente relembrarmos o filósofo francês Alexis de Toqueville, para quem “a democracia corre o risco de se transformar em sua própria antítese, comprometendo o próprio sistema de duas maneiras: pela atuação de seus agentes e pelo conteúdo individualista especificamente excludente”. PT, PSDB, PMDB e demais flâmulas estão cultivando com afinco o caldo de cultura que culminará em sua superação. Nessa toada, nem mesmo o carisma de Lula ou ineditismo de João Doria serão capazes de salvar as principais legendas da vingança do voto popular.
Nilton Cesar Tristão
Cientista político e diretor do Instituto Opinião Pesquisa
Foto: Wilson Dias (Agência Brasil)