“Vamos conseguir entregar uma cidade muito melhor do que recebemos”. Esta é a expectativa do prefeito Guti (PSB) quase um ano depois de assumir a administração da segunda maior cidade do Estado de São Paulo.
Eleito com 481.541 votos, o que corresponde a 83,50% dos votos válidos, ele promete retirar Guarulhos da crise financeira que se encontra e retomar o crescimento e importância econômica do município no país.
O prefeito recebeu o HOJE no Paço Municipal para uma conversa sobre os principais desafios já enfrentados no início da sua gestão e as expectativas e projetos para o próximo ano.
Abaixo, os melhores trechos dessa entrevista exclusiva.
HOJE – O senhor não nasceu em Guarulhos. Quando passou a viver na cidade?
Prefeito Guti – Vim para Guarulhos com quatro anos de idade. Minha família morava na Penha, zona leste de São Paulo, bem próximo a cidade. Sofremos um trauma da morte da minha mãe e dos meus avós e meu pai quis deixar tudo para trás, viver novos ares e recomeçar. Com isso, eu não lembro da minha vida fora de Guarulhos.
HOJE – Qual foi o principal desafio em seu primeiro ano de mandato?
Guti – Foi encontrar uma cidade com endividamento maior do que imaginava. Enquanto vereador eu pensava que era algo em torno de R$ 4 bilhões ou R$ 4,5 bilhões. Na transição de governo foi repetido esse mesmo valor. Quando assumimos fizemos um levantamento nos primeiros 40 dias e observamos que a dívida era muito maior. No total, o valor era de R$ 7,4 bilhões.
HOJE – Quais foram as medidas adotadas para equacionar as contas da prefeitura?
Guti – Na prática, batalhamos para conseguir diminuir esse débito e conseguimos, numa negociação, abaixar em R$ 1 bilhão com o acordo feito com a Sabesp.
HOJE – Essa dívida de R$ 7,4 bilhões dizia respeito a quê?
Guti – Cerca de 50% se referia ao débito do Saae com a Sabesp, o restante eram débitos com o INSS, precatórios e com fornecedores. Acredito que finalizo o ano com algo em torno de R$ 6,1 bilhões desta dívida.
HOJE – Os débitos com fornecedores se referem a quais serviços?
Guti – A maioria dos serviços. Desde aluguel de prédios até contratos com empresas que fornecem maquinários. Há dívidas com fornecedores de insumos na Educação e até mesmo para construção de prédios. Algumas cidades se endividaram muito, mas investiram em infraestrutura. Guarulhos carece de infraestrutura e tem uma dívida grande.
HOJE – Outro gasto da administração municipal é com aluguel de imóveis para abrigar departamentos públicos. Como está a questão atualmente?
Guti – Conseguimos economizar, aproximadamente, R$ 5,2 milhões só em aluguéis. Centralizamos o Saae e transferimos a SDU, SDCETI e a Secretaria do Trabalho de prédios alugados para o Adamastor. Diversas coordenadorias foram para o prédio da Secel. A Secom veio para o Paço.
HOJE – Quais foram suas prioridades neste ano?
Guti – Estamos pleiteando grandes obras para a cidade e nos preparando para receber verbas. Não adianta querer recursos e não ter os projetos necessários. Então nos concentramos em arrumar a casa. Herdamos uma cidade que, além de estar endividada e sem infraestrutura, também tinha um grande problema que era a ausência da Certidão Negativa de Débito (CND).
HOJE – Então a cidade não poderia receber nem verbas e nem emendas parlamentares?
Guti – Exatamente. Saae, Proguaru e prefeitura estavam todas sem CND. Conseguimos sanar depois de muitas negociações e agora Guarulhos está apta a receber verbas e emendas parlamentares.
HOJE – Quais são os principais avanços da sua gestão neste ano?
Guti – Me orgulho de muitas coisas. Conseguimos revolucionar o HMU. Hoje ele é totalmente diferente do que eu herdei. É um hospital referência, com qualidade e excelência que muitos hospitais privados não têm.
HOJE – Além da área da Saúde, quais outras tiveram avanços?
Guti – Conseguimos receber mais água da Sabesp e isso possibilitou ter um aumento de 23% a mais de água recebida. Com as intervenções que fizemos na rede praticamente 70% do território guarulhense conseguiu ter mais água.
HOJE – Isso significa o fim do rodízio?
Guti – Na prática o rodízio acabou, mas em tese não porque muitos locais têm rodízio na madrugada. Existiam bairros com três ou quatro dias sem água para ter um com. Iremos perseguir para acabar com o rodízio em 100% do território guarulhense.
HOJE – Uma de suas bandeiras de campanha foi entregar as obras paradas que existiam na cidade. Quais já foram concluídas?
Guti – Na Saúde entregamos a UPA Paulista e agora neste mês entregaremos a UPA Cumbica. Ainda falta muita coisa, sobretudo medicamentos. Não conseguimos resolver de forma totalitária, mas vamos perseguir isso.
HOJE – Outro compromisso de campanha era o enxugamento da máquina pública. Como o senhor resolveu isso?
Guti – Enxugamos do jeito que dava. Pegamos dois mil funcionários e reduzimos para 700. Uma redução maior do que o prometido. Reduzi o número de secretarias, e são conquistas que conseguimos no âmbito administrativo.
HOJE – Assumir uma cidade nestas condições te fez acreditar que seria algo impossível?
Guti – É prova de que temos que trabalhar muito mais. Eu trabalho geralmente 16 horas ou 18 horas por dia. Sou uma pessoa normal que recebeu uma responsabilidade muito grande. Sou obrigado pela expectativa que criaram e que me elegeram de me dedicar de corpo e alma. Estou muito motivado. Vamos conseguir entregar uma cidade muito melhor do que recebemos. Talvez não entregue a cidade que a gente quer, mas que será melhor não tenho dúvida.
HOJE – Um dos maiores anseios dos guarulhenses é a conclusão das obras do Trevo do Bonsucesso. Como estão atualmente as intervenções?
Guti – Até o final do ano que vem acredito que a próxima fase seja finalizada, que diz respeito ao acesso de volta a São Paulo. A entrega do trevo é crucial porque ele trava o desenvolvimento da região. Muitos comércios dependem da logística dessa região. Foi inclusive uma das minhas pautas junto ao Governo do Estado. Pedi investimentos porque precisamos de R$ 70 milhões para finalizar o trevo.
HOJE – Quais serão as prioridades para o ano que vem?
Guti – Reparar uma série de prédios públicos que estão sucateados, como o Fioravante Iervolino, o ginásio da Ponte Grande e o Thomeozão que são aparelhos extremamente importantes para o município.
HOJE – Alguma obra nova será realizada?
Guti – Quero deixar tudo em ordem. É mais barato readequar o espaço do que construir coisas novas.
HOJE – Guarulhos tem uma referência que é o aeroporto. Como estão os diálogos com a concessionária?
Guti – Estamos dialogando com eles a questão do IPTU. Não é só a questão de tributos, mas queremos que o aeroporto faça parte do cotidiano. Eles têm projetos sociais, mas são poucos. Por isso apresentamos algumas propostas para que tenham uma interação maior com a cidade.
HOJE – Durante sua campanha para prefeito, outra promessa feita era o congelamento do IPTU. Como será a cobrança do tributo em 2018?
Guti – Eu prometi que não iria aumentar. Falei sempre que o IPTU estava desproporcional. Apesar do problema financeiro muito grande que temos, vou enviar [projeto] à Câmara garantindo o congelamento do imposto. Todo mundo que pagar em dia. Seja em cota única ou parcelado, terá o desconto inflacionado. Essa é uma medida não só para cumprir a promessa de campanha, mas para garantir a adimplência do imposto. Queremos garantir que as pessoas consigam pagar. Não podemos abaixar o IPTU por questões da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
HOJE – Uma das grandes polêmicas da sua gestão foi o projeto de lei das concessões aprovado pela Câmara Municipal. O que de fato essa lei traz de benefícios para a cidade?
Guti – Nossa intenção com essa lei foi trazer a iniciativa privada para financiar alguns serviços dentro dos próprios públicos. Dessa forma conseguimos gastar menos com o custeio e investimos mais em serviços de qualidade. Com isso desoneramos o poder público de alguns gastos.
HOJE – Como isso funciona na prática?
Guti – Um exemplo é o Bosque Maia. Existe um valor mensal que a gente tem que despender para fazer a manutenção. Se nós tivermos um restaurante lá dentro ou uma lanchonete, através da iniciativa privada, a gente vai conseguir fazer o custeio desse próprio municipal.
HOJE – Então não se trata de uma privatização dos espaços e serviços públicos?
Guti – Não estamos privatizando. Estamos chamando a iniciativa privada para que explore o serviço. Tem que ter inteligência e clareza para que os gastos que podem ser custeados pela iniciativa privada o sejam.
HOJE – O que falta hoje em dia para os guarulhenses recuperarem o orgulho de viver na cidade?
Guti – O guarulhense não tem ainda um sentimento de pertencimento na cidade, porque a gente não tem algo de se orgulhar ainda. Fomentar a cultura é um ponto crucial para que isso aconteça.
HOJE – O que os guarulhenses podem esperar de 2018?
Guti – Podem esperar um ano melhor em termos de entrega de serviço, mesmo porque a economia está dando sinais de melhora. Nós também fizemos o nosso dever de casa. Enxugamos a máquina, fizemos algumas correções e teremos recursos para investir na cidade. Assim vamos ofertar os melhores serviços, garantindo que pelo menos um pouco mude e melhore. Vou continuar sendo o defensor do município, porque o meu cargo pede isso. Só peço que continuem acreditando e se unindo para que a gente consiga vencer da maneira mais rápida todos os problemas e empecilhos com união.