Reportagem: Wellington Alves
A Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados aprovou, ontem, requerimento para convocação de audiência pública para debater a crise na Fundação para o Remédio Popular (Furp). A empresa é a maior farmacêutica estatal do país e corre o risco de fechar por imposição do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O requerimento foi proposto pelos deputados federais Alencar Santana e Alexandre Padilha, ambos do PT. A audiência vai ocorrer neste mês, mas a data ainda não foi definida. O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, José Henrique Germann Ferreira, que é um dos responsáveis pela Furp, foi chamado para a reunião.
Também deverão comparecer à comissão o presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil, Ronaldo Dias, o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, o ex-diretor da Anvisa, Dirceu Barbamo, além de um representante do Conselho Federal de Farmácia.
Para Alencar, a proposta do governo estadual vai afetar os mais pobres, que dependem de medicamentos baratos, além dos negligenciados – que não são produzidos pela iniciativa privada. “É um crime o que o governador quer fazer. Quem se diz gestor não consegue gerir uma empresa”, afirma. Ele considera a gestão da Furp quer falir a fundação propositalmente. “A empresa não faz esforço para vender remédios e, quando vende, não produz no tempo adequado. Quer justificar a extinção.”
A Furp possui dívida superior a R$ 100 milhões e as duas fábricas (Guarulhos e Américo Brasiliense) funcionam com mais de 50% de ociosidade. A situação é investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Furp, instalada na Assembleia Legislativa de São Paulo. Os deputados estaduais apontam irregularidades na empresa, mas não há consenso sobre o fechamento.
No mês passado, reportagem do Guarulhos Hoje apontou que o fechamento da Furp coloca em risco milhares de pessoas que dependem de medicamentos negligenciados. Esses remédios são produzidos pela Furp por “caráter social”, já que não são lucrativos e não contam com interesse dos laboratórios particulares.
Audiência pública discute problema em Guarulhos
A Câmara de Guarulhos promove audiência pública para discutir a crise na Furp nesta sexta-feira (4), a partir das 18h. A fábrica na cidade tem mais de 800 funcionários, que atuam na produção de mais de 60 remédios para doenças como hanseníase, tuberculose e diabetes.
Na terça-feira, os vereadores aprovaram uma moção de repúdio contra a proposta do governador João Doria de encerrar as atividades da empresa. O documento será entregue à Assembleia Legislativa, que possui CPI focada nas irregularidades da fundação.
Em discurso à tribuna, o vereador Eduardo Carneiro (PSB), líder do governo, acusou Doria de desmontar políticas públicas do Estado no município. O parlamentar chamou o governador de “escorpião”.
Na audiência pública, há expectativa dos funcionários da fábrica se manifestarem. Eles temem perder os empregos, mas também reclamam que o encerramento da empresa irá acarretar problemas para a saúde pública com a ausência da produção dos medicamentos negligenciados.
Guti se posiciona e governo estadual prefere o silencio
Na opinião do prefeito de Guarulhos, Guti (PSB), o fechamento das fábricas da Furp em Guarulhos e Américo Brasiliense não é uma medida adequada. Ele considera que o Governo do Estado de São Paulo precisa ser transparente neste caso.
“Nós não podemos aceitar que 900 famílias percam suas fontes de sustento da noite para o dia. Esta é a nossa principal preocupação”, afirmou Guti. Ele destaca ainda que é preciso esclarecer como ficará a produção de medicamentos produzidos pela Furp, sem similares no mercado.
Por sua vez, a Secretaria de Estado da Saúde não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a fundação.
Deputados guarulhenses querem a Furp aberta
O fechamento da Furp não agrada os deputados federais e estaduais com domicílio eleitoral em Guarulhos. Para Alencar Santana, autor do requerimento que convoca a audiência pública no Congresso Nacional, falta sensibilidade ao governo estadual. “A Furp atende o país inteiro. Não pode fechar.”, diz.
O deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM) também se disse contrário ao encerramento da fundação, mas ponderou que entende o posicionamento de Doria. Ele tratou o assunto, na segunda-feira (30), com o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM). “O governador entende que não é função do Estado fabricar remédio”, comentou.
Para o deputado estadual Márcio Nakashima (PDT), a Furp deve ser mantida para garantir o acesso dos mais carentes a medicamentos fundamentais. “A população não pode ser penalizada”, diz.
A reportagem não conseguiu contato com o deputado estadual Jorge Wilson (Republicanos).
Foto: Ivanildo Porto