Reportagem: Wellington Alves
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O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), pode concorrer à prefeitura paulistana em 2020. Apesar da derrota em 2018, ele foi mais votado na capital do que o empresário João Doria (PSDB). Morador do Itaim Bibi, ele diz que vai se mudar para a Vila Mariana e confia que, com bons projetos, pode solucionar problemas que são deixados de lado pela gestão do PSDB.
Márcio França visitou a redação do HOJE nesta quinta-feira (3). Em entrevista exclusiva, ele criticou o rival Doria, que acabou com projetos iniciados por ele e planeja encerrar as atividades da Fundação para o Remédio Popular (Furp), que tem fábricas nas cidades de Américo Brasiliense e Guarulhos.
Ciente do corte de investimentos do Estado em Guarulhos, Márcio França afirmou que pretende, caso seja candidato e vença a eleição, executar projetos em parceria com o prefeito Guti (PSB).
O ex-governador também visitou o The Fire Steak&Burger, que graças à parceria com a Sabesp, é o único restaurante no estado que serve jarras de água potável aos clientes a partir de chopeiras, como no modelo norte-americano.
HOJE – Essa sexta-feira marca um ano para as próximas eleições. O senhor é considerado pré-candidato a prefeito na Capital. Como encara esse desafio?
MÁRCIO FRANÇA – Eu já fui prefeito por oito anos na cidade mais antiga do Brasil, que é São Vicente. É a posição onde você é mais exigido e mais se realiza. Não planejava ser candidato a prefeito. As pesquisas me indicam como primeiro nas intenções de voto, quando não estão os artistas. Não sabemos o que Deus nos reservou. Não batemos 100% o martelo, mas a tendência é essa.
– Hoje há polarização entre direita e esquerda. O senhor pretende continuar no PSB?
FRANÇA – Nunca troquei de partido. Eu não mudo de posição pelas ondas. Durante a campanha, as pessoas queriam que eu dissesse ser a favor do Bolsonaro ou do PT e eu não disse. O Doria disse que era Bolsonaro, agora voltou atrás. Se todo mundo mudasse para ser nazista quando o Hitler estava na Alemanha, não teria resistência. Acho que a maioria não está nem na esquerda, nem na direita. A maioria está no bom senso. É aí que eu estou.
– Na eleição de 2020, o prefeito Bruno Covas não é tão conhecido, mas tem a máquina. Será uma vantagem?
FRANÇA – Para ele é. Não é só a máquina. O Bruno é um bom sujeito, jovem, tem uma tradição familiar relevante, mas tem um problema. As pessoas acreditam que o prefeito é o Doria. É o BrunoDoria. O Doria na Capital ficou com rejeição pela renúncia depois de um ano e três meses na Prefeitura e isso afeta diretamente o Bruno. Na capital eu venci o Doria com 60% dos votos. É algo relevante.
– O governador João Doria cancelou ações previstas pelo senhor e pensa em acabar com a Furp. Como avalia o primeiro ano do mandato dele?
FRANÇA – Quando a pessoa é eleita para um cargo no Executivo, ela tem que governar para todos. Ele tem tirado investimento de cidades em que perdeu, como Guarulhos. Tem um assunto que ele manteve, que já estava em andamento, que é o fim do rodízio de água, um trauma para a cidade. Agora, quando você vê uma montanha de farmácias particulares se instalando e o Estado propõe a extinção da Furp, você entende um pouco essa história de direita e esquerda. Se não tem remédio público, vai ter que comprar.
– A Furp produz muitos medicamentos negligenciados, por caráter social. Não será grande prejuízo para quem depende desse serviço?
FRANÇA – As pessoas mais simples, hoje, dependem de remédio público. O medicamento é uma extensão da sobrevivência da pessoa. Sinceramente, se o Estado não garantir nem a sobrevivência da pessoa, vai garantir o quê? Pode até não ter Furp, mas vai substituir pelo quê. No caso de Guarulhos serão 800 empregos a menos.
O governador aprovou ontem [quarta-feira], na Assembleia Legislativa, um subsídio de R$ 1 bilhão para a Caoa colocar fábrica em São Bernardo. E quanto custa manter a Furp em Guarulhos? Deram isenção fiscal para combustível de avião que representou R$ 400 milhões a menos de arrecadação. Daria para manter a Furp, construir o AME Mais na cidade e fazer muito mais.
– Seu partido faz oposição ao governo Bolsonaro. Qual é a sua avaliação do mandato dele?
FRANÇA – Eu reconheço no Bolsonaro uma autenticidade no que se propõe. Ele viveu ao meu lado, porque fomos deputados. Sabia que ele teria dificuldade, já que não é uma pessoa muito afável. Tem dificuldade de relacionamento. Ele tem que acertar a economia. O resto é uma certa firula. Não sinto na indústria, na parte mobiliária, na construção uma melhora. Na virada do ano, se a economia voltar a crescer, o presidente terá um respiro. Se não voltar a crescer, nada vai salvá-lo. Tem que dar um desconto que o Bolsonaro pegou um país com muitas confusões e um Congresso que ele não tem a maioria.
– Sua possível candidatura em São Paulo pode beneficiar o prefeito Guti?
FRANÇA – Quando vim a Guarulhos na campanha passada de prefeito, a cidade estava envolvida em escândalos. Toda hora estava nas páginas policiais. O que fica na história são as grandes marcas. A primeira é que a cidade saiu do caderno da página policial. É uma cidade estável, com dificuldades. Outra é que a cidade tinha uma fissura inacreditável, que é a questão da água.
Essa é uma conquista que o Guti vai levar para a vida toda de acabar com rodízio. O Estado tem débito com Guarulhos. Deveria ter muito mais aportes e suplementos estatais. Como não tem tido, falei para o Guti que, caso seja candidato e os dois vençam, teremos ajuda mútua. As cidades se cruzam. Muitas coisas podem ser feitas em conjunto.