O cuidado continuado de idosos durante a pandemia, realizado pelo Núcleo de Apoio à Saúde Família (Nasf) em três Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Guarulhos, foi classificado como a melhor experiência da Região Sudeste durante a 1ª Mostra Virtual Brasil, aqui tem SUS, que aconteceu no final do ano passado. Neste mês, a iniciativa foi publicada no site do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Diante da necessidade de isolamento social imposta pela covid-19, o Nasf decidiu desenvolver uma nova estratégia, de forma remota, para avaliar a população idosa.
O objetivo é entender a atual situação de saúde, traçar um plano de autocuidado, ofertar apoio da equipe e monitorar as condições crônicas dos idosos. Três UBS foram selecionadas para participar da experiência por estarem inseridas em contextos socioeconômicos distintos: a São Rafael, localizada em uma comunidade carente, a Itapegica, dentro de um bairro industrializado, e a Munhoz, instalada em uma região de classe média com maior concentração de idosos.
De acordo com a autora da experiência, a educadora física do Nasf, Luciana Miranda, o primeiro passo para dar continuidade ao cuidado da população idosa de forma remota foi por meio do contato telefônico com aqueles que frequentavam regularmente as unidades de saúde, para atendimentos individualizados e em grupos com os acamados, bem como com os que tinham cadastro, mas não conheciam o trabalho desenvolvido na UBS. A escuta ampliada foi o elemento utilizado para perceber a saúde mental dos usuários e as condições motoras, considerando os sentimentos relacionados ao isolamento social.
Nova forma de acolher
Todo o trabalho foi desenvolvido por uma psicóloga, uma nutricionista, uma fisioterapeuta e a educadora física do Nasf. Por meio dessa iniciativa, os idosos receberam orientações sobre cuidados com a alimentação, dicas de exercícios físicos que podem ser realizados em casa e de forma autônoma, além de atividades que podem colaborar para a redução de quadros depressivos e de ansiedade.
A psicóloga criou grupos de conversas online abertos à participação dos idosos. Além disso, cuidadores e usuários receberam orientações sobre os serviços em funcionamento nas unidades e os cuidados relacionados à Covid-19. O resultado observado pela equipe foi que a presença dos profissionais, mesmo que de forma remota, gerou uma sensação de acolhimento entre os idosos.
Fizeram parte do estudo 134 idosos, sendo 88 mulheres e 46 homens com idade média de 73 anos. A maioria (53%) foi classificada como saudável, o que levou a equipe a desenvolver uma série de estímulos para que mantenham bons hábitos. Para os pacientes considerados frágeis (10,4%) foram intensificados os planos de cuidado e para os classificados como pré-frágeis (37,3%) foram traçadas estratégias para que eles não perdessem mais autonomia.
Ao longo dessa experiência a equipe também identificou um ganho de peso significativo em todas as faixas etárias. Desde então, o trabalho desses profissionais se divide em visitas domiciliares, contatos telefônicos e envio de informações via WhatsApp com orientações nutricionais, sugestões de práticas de movimento e apoio psicológico. “No começo foi muito desafiador e difícil não ter mais contato com eles, sobretudo com os mais ativos, com quem eu tinha muita proximidade. Mas a adaptação de nosso trabalho com essa experiência foi um ganho muito grande, mesmo que de forma remota”, explicou Luciana.