Morreu na última segunda-feira (10), aos 60 anos, José Márcio Felício, o Geleião, um dos fundadores da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele estava internado desde o dia 9 de abril no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na cidade de São Paulo, em decorrência do agravamento de um quadro de covid-19.
Desde o começo da pandemia, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, 50 presos e cem servidores morreram em decorrência do novo coronavírus no Estado. A pasta disse que a taxa de recuperados entre os presos é de 99% e que adota todas as determinações do Centro de Contingência, com reforço das medidas de higiene, suspensão de atividades coletivas e quarentena para presos que entram no sistema.
Pesquisadores e membros da polícia e do Ministério Público classificam Geleião como uma peça-chave na criação do PCC no início dos anos 1990. Embora um ataque liderado por ele contra rivais na Casa de Custódia de Taubaté, em 31 de agosto de 1993, tenha marcado a fundação da facção, o grupo já tinha começado a se organizar e atuar nos anos anteriores.
No livro Laços de Sangue, a história secreta do PCC, o procurador de Justiça Marcio Sergio Christino e o jornalista Claudio Tognolli descrevem que Geleião foi encontrado bebê em um barraco por uma família, que o criou até os 10 anos de idade. Aos 18 anos, em 1979, foi preso e levado à Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte da capital. A primeira pena, de 30 anos, se somou a outras condenações por crimes como homicídio no interior do sistema penitenciário, onde permaneceu até a sua morte.
Era uma figura fisicamente impressionante, descreve a publicação, com mais de 1,90 de altura e seus 130 quilos. “Muito forte e ao mesmo tempo muito carismático, fala bem e é articulada”, escrevem Christino e Tognolli no capítulo “O Ídolo Gigante”. O tipo físico fazia com que os ataques realizados contra rivais dispensassem o uso de facas, tão típicas no meio prisional: “o confronto dele era corporal e direto”.
A morte de Geleião marca o fim do grupo de fundadores do PCC. Nomes como César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha (morto em 2006), Misael Aparecido da Silva, o Misa (morto em 2002) e Wander Eduardo Ferreira, o Du Cara Gorda (morto em 2000) integravam esse grupo original de 1993, mas morreram em ações de rivais ou da polícia. Felício era o único que restava e estava preso, antes da internação, na Penitenciária de Iaras, no interior do Estado.
O papel de liderança do PCC, no entanto, já não lhe cabia mais desde a virada dos anos 2000, quando passou de fundador para traidor na visão dos integrantes da facção. Fez uma delação premiada e antagonizou com o comandante que se estabelecia com cada vez mais força: Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. “Ao se defrontar com Marcola, foi isolado e expulso do PCC, e acabou exilado dentro do sistema penitenciário” contou Christino nesta segunda-feira ao Estadão.
Afastado, viu o PCC evoluir de um grupo que ambicionava dominar o sistema carcerário para um cartel internacional de drogas. “Foi uma mudança que nem eles esperavam, se surpreenderam ao ver o PCC virar um cartel internacional. A mudança de rumo veio depois que Marcola tomou a liderança”, acrescenta Christino. Marcola segue preso na penitenciária federal de Brasília e a facção agora movimenta bilhões de reais.