A seleção brasileira vai disputar a Copa América. Os jogadores negam qualquer pedido de férias, mas não abrem mão de explicar os motivos da revolta com a competição que veio parar no Brasil sem aviso prévio.
Os atletas vão divulgar um manifesto, que deverá ser uma nota simples e curta. O tom é de desaprovação com a maneira como a Copa América foi transferida para o Brasil depois da desistência de Colômbia e Argentina. E também vão criticar a desorganização da Conmebol. No documento, eles querem deixar claro que o posicionamento não era político e que valeria para qualquer país onde o torneio fosse realizado.
O momento de divulgação do documento ainda não foi definido pelos atletas. Pode ser ainda nesta segunda-feira, mas é mais provável que seja realmente após a partida diante do Paraguai, nesta terça-feira, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Os jogadores estão tentando divulgar o manifesto juntamente com atletas de outras seleções para acentuar que não se trata de ação com caráter político.
Existe ainda a possibilidade de o elenco fazer alguma manifestação em relação à pandemia no Brasil, usando suas imagens em prol do combate à doença. O Brasil está perto de registrar 500 mil pessoas mortos pela covid-19. Entrar em campo com faixas de alerta não está descartado.
Na semana passada, o presidente afastado da CBF por denúncia de assédio sexual e moral, Rogério Caboclo, acertou com a Conmebol e com o presidente Jair Bolsonaro a realização da Copa América no Brasil. A decisão foi tomada sem consulta ao técnico Tite, ao capitão Casemiro e às principais lideranças da equipe.
Nem mesmo outros departamentos da CBF foram consultados para a organização do evento. Este é um dos principais motivos de insatisfação. Os jogadores se sentiram traídos pelo dirigente e não aceitam a maneira como a decisão foi tomada. Os jogadores vão manter a postura contra a realização da disputa no Brasil e da forma com ela foi “empurrada” para eles na concentração das Eliminatórias, mas não vão prejudicar a entidade “seleção brasileira” numa competição internacional.
Os atletas também condenaram a presença do dirigente em Porto Alegre nos treinos e no vestiário. Caboclo tentou contornar o clima, mas só fez piorar o sentimento de todos. Disse o que não deveria, proibiu Casemiro de dar entrevista, o que ele não cumpriu, porque falou em entrevista à Globo, detentora dos direitos de transmissão após a vitória diante do Equador, e ainda tratou, segundo apurado pelo Estadão, o elenco em tom pejorativo entre patrão e empregado, o que só causou mais revolta. Com o afastamento de Caboclo, o cenário mudou.
Não se sabe se todos os jogadores vão disputar a Copa América. Tite pode repensar o grupo. Em princípio, todos eles ficariam juntos, como disse Casemiro. O torneio começa dia 13 acaba dia 10 de julho, se o Brasil chegar até a decisão, marcada para o Rio. A seleção é a última campeã da Copa América, em 2019, após superar o Peru.
Os jogadores não sabem nada da Copa América: se vão ficar na Granja Comary, o mais provável, ou se num hotel nas cidades de Brasília, Goiás ou Cuiabá. Também não foram avisados dos traslados das viagem e das rotinas de uma competição com a chancela da Fifa e da Conmebol. Dizem que, se a Copa América fosse realizada na Argentina, sabiam que o país tinha se preparado há dois anos para recebê-la, diferentemente do Brasil, que tenta se organizar em dez dias.
Para os jogadores, a Copa América não vale muita coisa em seus respectivos currículos. Vale apenas mais uma taça. O campeão vai ganhar R$ 52 milhões.