Dizem os bons costumes que não se pode misturar política e religião. Futebol, então, nem pensar, uma vez que o esporte envolve muita política nos bastidores e é considerado uma verdadeira religião para os milhares de torcedores ao redor do mundo. O paciente com deficiências Gebaldo dos Santos (47), acolhido pela Unidade de Longa Permanência da Casas André Luiz desde os 6 anos de idade, é mais um brasileiro fanático pelo mundo da bola. Para ele, Palmeiras no céu e o goleiro Weverton Pereira na terra, ou melhor, no gol, para auxiliar a equipe alviverde em busca de novos títulos e conquistas.
Gebaldo foi diagnosticado com deficiência intelectual leve e síndrome Guillain-Barré, doença rara em que o sistema imunológico do corpo ataca os nervos e compromete a movimentação dos membros superiores e inferiores. Porém, graças ao andador ortopédico com rodas, adaptado para lhe garantir mais liberdade e autonomia, o palmeirense visita o prédio administrativo da Casas André Luiz para conversar com os colaboradores sobre seu assunto favorito: futebol, é claro.
“Ele está sempre presente na nossa rotina, e aparece logo cedo, depois de tomar banho e café da manhã”, afirma Emerson Tadeu Magalhães, coordenador de finanças do Departamento Financeiro da Casas André Luiz. “É sempre um grande prazer recebê-lo em nosso setor. A gente conversa sobre os lances polêmicos dos jogos, os grandes ídolos do futebol e até brinca quando o verdão perde. A brincadeira é sadia e ele entende muito bem que perder também faz parte”.
Gabriely Reynaldi, psicóloga do palmeirense, comenta que Gebaldo é sociável e possui um espírito de liderança forte, além de estratégias funcionais desenvolvidas para melhorar o seu dia a dia: “Estas estratégias funcionam muito bem para expandir sua interação, tanto com os colegas de quarto quanto com os colaboradores da Instituição. É uma ferramenta bastante útil, principalmente na hora de brincar quando o time rival perde, ou para defender o time do coração após uma derrota”.
Emerson é corinthiano, mas a rivalidade histórica entre torcida e equipe não existe na ULP. Pelo contrário. “Eu imprimo o escudo do Palmeiras para o Gebaldo pintar e coloco os jogos antigos do verdão para ele assistir no computador. Ele fica todo feliz, e anota cada resultado em seu caderninho. Este tipo de coisa não tem preço”.
Paixão e devoção
Mesmo com dificuldade em articular as palavras, Gebaldo aponta para a tela do computador e fala se gosta mais ou menos de determinado jogador. Na verdade, é difícil encontrar alguém que desagrade o torcedor, feliz da vida depois da vinda do técnico português Abel Ferreira para comandar o elenco, porém, seu rosto ilumina por completo quando a foto do goleiro Weverton Pereira aparece ao lado dos companheiros de equipe.
“Essa paixão pelos goleiros do Palmeiras começou com o Fernando Prass. Depois, passou para o Jailson Marcelino. Agora, Weverton é seu novo ídolo. Ele (Gebaldo) comemora cada defesa como se fosse um gol. E isso é muito legal, porque, geralmente, a torcida vibra com o desempenho dos atacantes”, acrescenta Emerson.
O sonho do Gebaldo é simples: conhecer o estádio Allianz Parque e, quem sabe, o ídolo Weverton. Visitar a casa do time alviverde já estava nos planos dos amigos, que arrecadaram a quantia necessária para custear o transporte e o ingresso. Porém, com o avanço do covid-19 e a restrição do público nos estádios, a visita precisou ser adiada.
Enquanto isso, Gebaldo espera e continua sua rotina: veste a camiseta e a calça com o símbolo do verdão logo nas primeiras horas da manhã, sem esquecer a máscara de proteção e o andador, ambos personalizados com o escudo do Palmeiras, e sai do quarto com saúde e bem-estar para aproveitar mais um dia de plenitude na Unidade de Longa Permanência.