Para comemorar os 204 anos do Museu Nacional, instituição museológica e de pesquisa mais antiga do país, foi aberta a exposição Que baleia é essa?, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A sede do Museu, o Palácio Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, foi destruído por um incêndio no dia 2 de setembro de 2018.
A exposição traz um esqueleto de baleia-cachalote – Physeter macrocephalus – com 15,7 metros de comprimento, além de um modelo tátil da baleia em miniatura e textos explicativos sobre o exemplar e hábitos da espécie e de outros cetáceos. O objetivo é aproximar o público do Museu Nacional e trabalhar com as escolas a educação ambiental e a biologia, com visitas agendadas.
A curadora da exposição, Juliana Sayão, que é bióloga e pesquisadora do Museu Nacional, entidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que a aquisição é fruto da campanha #Recompõe, iniciada no ano passado para ajudar a recompor o acervo do museu, que tem foco na história natural.
“Essa baleia é a primeira peça de grande porte que o museu recebe. A gente monta aqui para que o público já tenha um gostinho do que ele poderá ver quando o museu abrir suas novas exposições. A nossa ideia é que a baleia fique no hall de entrada, ao lado da escada monumental, que é a peça arquitetônica mais icônica do Museu.”
De acordo com a curadora, a campanha já arrecadou cerca de mil peças de cunho expositivo e científico. A recomposição do acervo vai buscar novas abordagens de pesquisa.
Baleia-cachalote
O esqueleto foi montado no segundo pavimento do foyer da sala de concertos da Cidade das Artes. Trata-se de um macho adulto com cerca de 80 toneladas, que encalhou na Praia de Curimãs, no município de Barroquinha (CE), em janeiro de 2014, ainda vivo, mas não resistiu, sendo enterrado no local.
A montagem da exposição foi financiada pelo governo da Alemanha, que aportou 24 mil euros para os cuidados necessários e transporte da ossada. A peça ficará exposta no local pelos próximos dois anos, com visitação às terças e quintas-feiras das 10h às 18h e aos sábados 10h às 16h, mediante agendamento prévio pelo e-mail [email protected].
A bióloga Juliana Sayão explica que a cachalote emite um dos sons mais altos do reino animal, chegando a 197 decibéis, e é o maior animal carnívoro que existe atualmente, se alimentando de grandes espécies que podem incluir lulas gigantes e até tubarões. A espécie pode chegar a 20 metros e é ficou muito conhecida por causa do livro Moby Dick, do escritor norte-americano Herman Melville.
O biólogo Antônio Carlos Amâncio, que coordenava a ONG que registrou a baleia encontrada junto ao estado do Ceará e foi responsável pela montagem do esqueleto na exposição, explica que o estado de conservação do animal estava muito bom, com 96% da estrutura óssea preservada após a recuperação, feita seis anos após a baleia ter sido enterrada.
“A primeira exposição dela ao público vai ser agora. O esqueleto passou um ano sendo preparado até estar pronto para ser a fazer a montagem final. Por ser um museu de história natural, é muito comum ter esqueletos, animais de taxidermizados. O Museu nacional tinha um esqueleto de baleia em sua exposição e que, infelizmente, se perdeu no incêndio. Houve a necessidade de ter a reposição de um animal dessa magnitude, de um bicho grande de mais de 14 metros para recompor essa exposição.”
Reconstrução do Museu Nacional
Antes da visita à exposição, a diretoria do Museu Nacional atualizou o andamento da reconstrução da instituição, em entrevista coletiva. De acordo com o diretor do Museu, Alexander Kellner, até o momento foram arrecadados cerca de 60% do valor estimado que será necessário para a reconstrução do Palácio, do total de R$ 380 milhões.
“O grande problema é que, para começar as obras, tem que planejar muito, a gente não sai construindo assim. E esse planejamento está enfocado na necessidade – que nós sabemos que teremos – que é de mostrar um museu super bacana, super moderno, com a vertente histórica que queremos preservar. E isso demanda um certo planejamento. Queremos ser um museu de história natural e antropologia com vertente histórica, inclusiva, inovadora, sustentável”.
Kellner explica que o novo acervo foi dividido em quatro vertentes: histórica; meio ambiente; universo; e vida e diversidade cultural. Para montar uma exposição completa, são necessárias cera de 10 mil peças e o Museu Nacional conseguiu, até o momento, cerca de mil.
“Estamos em uma campanha bem complexa, que é obter novos exemplares para as nossas exposições e é fundamental que a gente entenda que temos que merecer este novo acervo. E nós só vamos merecer o acervo se fizermos o nosso dever de casa, que é reconstruir o palácio com as melhores normas de segurança para pessoas e, também, para um novo acervo. Temos que mostrar o mundo que o Brasil aprendeu e que agora estamos unidos para reconstruir o primeiro museu brasileiro”.
Reconstrução
A coordenadora do projeto Museu Nacional Vive, Lúcia Bastos, apresentou o andamento da reconstrução e disse que a primeira parte da obra, que compreende a fachada principal e a cobertura do Palácio, será entregue a tempo das comemorações do bicentenário da Independência, em 7 de setembro.
“Concluímos uma etapa e depois vamos contratando, em paralelo, as obras para as outras fachadas, coberturas e esquadrias. O projeto da área interna ficando pronto em 2023. O projeto está sendo desenvolvido e já tem a aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Então isso é muito positivo”.
De acordo com ela, a Biblioteca está quase pronta, faltando apenas o sistema de ar-condicionado, cujos recursos já foram conseguidos. Sobre o novo campus, para onde será transferida toda a parte de pesquisa do Museu Nacional, a área ainda está passando pelas obras de infraestrutura, mas já está em funcionamento no local a parte administrativa, para a qual foi construída um prédio modular provisório.