Pesquisas recentes apontam que é grande o número de pessoas no mundo que sofrem algum tipo de dor, seja ela aguda, crônica ou oncológica. De trabalhadores a pacientes oncológicos, os efeitos da dor se refletem em baixa produtividade, absenteísmo, necessidade de reabilitação e de readaptação ao ambiente de trabalho, resultando em altos custos de assistência. De acordo com essas pesquisas, a dor crônica atinge cerca de 30% da população mundial e até 70% dos pacientes oncológicos terão algum tipo de dor durante o tratamento da doença e cerca de 90% dos pacientes terminais sofrem dores intensas.
Conceitualmente, o tratamento intervencionista da dor é uma atividade médica que tem como objetivo principal o alívio imediato da dor nos pacientes, bem como o diagnóstico exato de sua localização, a realização de testes guiados por imagem e o tratamento especializado dos quadros e distúrbios que a provocam.
Roberta Umezu, anestesista especializada em clínica da dor intervencionista e Coordenadora do Grupo Multidisciplinar do Serviço de Anestesia do Hospital Nipo-Brasileiro, esclarece que esse tipo de tratamento intervencionista é indicado quando os do tipo farmacológico não promovem analgesia eficaz ou quando os efeitos adversos se tornam intoleráveis aos pacientes: ” Os tratamentos intervencionistas da dor consistem em diversas técnicas minimamente invasivas, realizadas através da utilização de técnicas percutâneas, independentemente ou em conjunto com outras modalidades de tratamento” , acrescenta ela.
Anualmente mais de 10 milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas com algum tipo de câncer e entre 70% a 90% delas podem sentir dor em alguma fase da doença, o que, segundo ela, direciona o respectivo tratamento não apenas à doença, mas também, à dor associada ao quadro, que pode influenciar e reduzir a qualidade de vida desses pacientes.
Roberta acrescenta que a dor decorrente do câncer é, em geral, passível de tratamento, existindo duas categorias principais de procedimentos minimamente invasivos para o seu controle, conhecidas como técnicas neuroablativas e as neuromoduladoras ou não ablativas.
Nas neuroablativas, o sistema nervoso não é preservado, sendo realizadas interrupções das chamadas vias nociceptivas ou de algesia (dor) seja por meios cirúrgicos, químicos ou térmicos. Por sua vez, nas neuromoduladoras ou não ablativas, o sistema nervoso é preservado, com a inibição dinâmica das vias nociceptivas pela administração de opióides e outros fármacos, através da espinha ou por técnicas de estimulação.
Os benefícios desses dois procedimentos, segundo Roberta, são o aumento da qualidade de vida e a satisfação dos pacientes, porém, uma gestão correta exige uma abordagem multidisciplinar que envolve o conhecimento da fisiopatologia da dor, da farmacologia dos analgésicos e do manejo das questões psicossociais.
Pacientes com dor decorrente de câncer experimentam frequentemente mais de um tipo de dor, como neuropática, nociceptiva ou mista, que pode ser constante ou intermitente. Essa dor pode ser causada por diversos mecanismos, como invasão direta do tumor (local e sistêmica), resposta à terapia ou ao diagnóstico do câncer (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e biópsia), ou problemas não relacionados ao câncer como, por exemplo, hérnia de disco e neuropatia diabética. Fatores psicossociais, como depressão, ansiedade, catastrofização e cognição, podem influenciar a percepção da dor e contribuir para a intensidade da dor total.