Guarulhos Hoje

Cia Fuxico de Teatro apresenta ‘Chorinho’

Chorinho é um espetáculo que trata da vida urbana, em que a narrativa do espetáculo traz duas personagens a tia (Cida Lima ) e o morador de rua (Ronaldo Barbosa),   completamente díspares, mas que sofrem do mesmo mal: solidão. Com poesia e humor, a peça traz em sete momentos a construção inusitada de uma amizade, em que as personagens passam a compartilhar seus pensamentos, medos e solidão.

O espetáculo “Chorinho” é uma celebração da dramaturgia brasileira e de seu autor, Fauzi Arap. Ator, diretor e dramaturgo, Arap é considerado um dos principais nomes do teatro e da cultura brasileira ao lado de outros grandes artistas como José Celso Martinez Correa, Antônio Abujamra, Clarice Lispector e Maria Bethânia, com os quais trabalhou e manteve relações de profunda amizade. Trazer Fauzi Arap aos palcos mais uma vez é manter viva a história da cultura no Brasil possibilitando sua difusão e reafirmação. 

Anterior a esta montagem, “Chorinho” teve duas montagens ambas com direção do próprio Fauzi Arap. Para esta terceira encenação, a Cia Fuxico conta com a direção de Marcos Loureiro, assistente de Fauzi nas outras versões. Mantém-se a sutileza da encenação, adaptável a diferentes espaços cênicos. O cenário é simples, apenas composto por uma rotunda ao fundo, um banco de praça, alguns adereços e os atores. A luz também acompanha a simplicidade da cena, privilegiando os estados internos das personagens, que por vezes expressam verbalmente o próprio pensamento, e a passagem do tempo. Uma atmosfera poética para a história se desenrolar através do encontro de dois personagens urbanos que dividem suas histórias, seus medos suas frustrações. Dessa forma, a encenação concentra-se mais na relação dos atores em cena e na escuta atenta às palavras do autor, mantendo-se fiel à visão de Fauzi Arap em suas encenações pregressas. A dinâmica da ação dramática é ágil, separada em 7 movimentos que mesclam humor e drama na medida certa. Fauzi havia recebido uma crítica certa vez sobre o minimalismo do cenário e a resposta dele foi a seguinte: “O texto fala por si, ele é mais importante do que qualquer outra coisa que venho a colocar”.

Logo após Chorinho de  Fauzi Arap  ganhou o Prêmio APCA de Melhor Autor, em 2007.

Trazer Fauzi Arap aos palcos mais uma vez é manter viva a história da cultura no Brasil possibilitando sua difusão e reafirmação.

Relevância e pertine?ncia.

Uma escuta para a cidade

A vida moderna nos grandes centros urbanos, aliada aos rápidos avanços da tecnologia que hoje cabe na palma das mãos, evidencia uma sociedade fragmentada através de seu “ensimesmamento” em bolhas de convívio. Os algoritmos que regem as redes sociais encarceram o usuário não somente pelo uso viciante dos apps mas também porque promovem a criação virtual de círculos sociais cada vez mais homogêneos, que condicionam a interação dos indivíduos em ambientes de pouca ou nenhuma diversidade. Não à toa percebe-se uma explosão de casos de violência, em suas muitas formas, advindas do preconceito e da intolerância com o diferente. Assim, a realidade das ruas e da cidade é um campo de batalha, um lugar de disputa pelo espaço público.

A dramaturgia de Fauzi Arap foi concebida a partir de um episódio vivido por ele quando, nas ruas da cidade, por descuido, ele topa num senhor em situação de rua. A cena é sintomática quando se trata de pessoas que ocupam a margem da vida, invisibilizadas e negligenciadas tanto pelo Estado quanto pela sociedade. Este encontro descuidado desperta o olhar de Fauzi para uma situação cotidiana, que poderia ser considerada corriqueira mas que revela uma ferida social ainda exposta: a desumanização da pobreza e a invisibilização de indivíduos à margem.

“Chorinho” é um espetáculo que trata da vida urbana e que apresenta em sua narrativa duas personagens : a tia (Cida Lima) e o “morador da praça” (Ronaldo Barbosa) . Figuras aparentemente díspares que se abrem, não sem resistência, para o diálogo. É uma disputa surda, invisível, que alimenta a peça de forma continuada, como se a praça fosse personagem, afirmava Fauzi, que também dizia que o título da peça seria por causa da cadência do ritmo sonoro do chorinho e que o termo traduz bem a relação entre as personagens. O nome ainda remeteria aos pequenos choros do dia a dia, às pequenas reclamações diárias, às pequenas lamúrias.

Serviço:

Teatro Alfredo Mesquita – dia 18/10 às 21h

Ingresso – gratuito – só chegar 30 minutos antes para adquirir.

Avenida Santos Dumont, 1.770 – Santana 

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