A empresária camaronesa Melanito Biyouha se surpreendeu com a variedade gastronômica de São Paulo quando veio passar as férias em 2007. “Mas onde estão os restaurantes africanos?”, perguntou aos conterrâneos. Foi essa questão sem resposta que inspirou a empreendedora de 52 anos a abrir o Biyou’z (diz-se biúz), um dos primeiros endereços da gastronomia africana na cidade.
Segundo a empresária, a ideia ficou em sua cabeça, mas não foi o seu primeiro negócio. Em Brasília, berço escolhido por causa dos parentes diplomatas que viviam por aqui, ela começou como cabeleireira num salão de penteados africanos. Com o sucesso das suas tranças, logo conquistou a própria clientela. Para completar a renda, dava aulas de francês, a língua oficial do seu país.
Foi em uma viagem de férias a São Paulo que surgiu o estranhamento sobre a falta de restaurantes africanos. “Não acreditei que o Brasil, sendo um país com tantos descendentes africanos, não tinha uma representação na gastronomia.”
Churrasqueira
Ela começou assando peixe na calçada da Rua Guaianazes, ponto de encontro dos africanos no centro. “Eu fiz uma churrasqueira à moda africana, na calçada. Quando eu falo isso, as pessoas não acreditam. Foram uns seis meses assim.”
Antes de imigrar, Melanito trabalhava como operadora de caixa em um banco em Iaundê, capital de Camarões. Tinha dinheiro guardado, mas não suficiente para algo grande. Em fevereiro de 2008, alugou o espaço onde o restaurante está hoje, na Alameda Barão de Limeira, no centro, e criou cinco pratos camaroneses com as receitas de sua família.
Na tradição familiar que passa de boca em boca, o Biyou’z serve alguns pratos que Melanito aprendeu em casa. Desde os oito anos, ela ajudava suas outras duas irmãs no fogão. Hoje, ela faz cozinha africana, sem fronteiras. É um resgate cultural em pratos como o Ndjap (espinafre, camarão moído, berinjela, fufu de milho e carne), o Madesu (feijão branco com azeite de dendê e arroz, acompanhado por carne, peixe ou galinha) e o DG (banana da terra frita com legumes e galinha). Melanito explica que os molhos também são protagonistas e os acompanhamentos podem mudar
Melanito recorda que, quando chegou a Brasília, viu poucos negros nos restaurantes ou lojas, com exceção de filhos de diplomatas. Na sua percepção, o processo é lento, mas mudanças já estão ocorrendo. “Hoje, o negro brasileiro consegue deixar o cabelo black, andar com roupa estampada e se apresentar de um jeito mais livre. Ainda existem coisas a ser feitas, mas está evoluindo.”