O que impede (de verdade) a abertura de novos cursos de medicina?

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É público que preparamos o nosso campus, no centro de Guarulhos, para ampliar a grade da área da saúde com o curso de Medicina no ENIAC. Entretanto, assim como outras instituições do Brasil que cumpriram todas as regras para iniciar as atividades, esbarramos na demora das respostas dos órgãos que regulam a atividade. E o artigo de Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, publicado nesta quarta-feira, 24/07, no Conjur, portal especializado no setor jurídico, me fez ver que não estamos sozinhos.

É dramática a situação de jovens que migram para outros países para realizar o sonho de estudar medicina. Sozinhos, com a saúde mental abalada, enfrentando limitações de idioma, aprendendo a cuidar de gente em uma cultura estranha. Rússia, República Checa, Argentina, Bolívia ou Paraguai. É justo que nossos meninos sejam obrigados a se exilar para aprender medicina?

Por outro lado, está a população. Historicamente, o acesso à saúde no Brasil é um drama. Faltam médicos para atender o nosso povo, não é segredo para ninguém. Nas filas do SUS, consultas com especialistas levam meses para acontecer, cirurgias simples, como catarata, podem demorar anos para acontecer. O motivo? Falta de médicos. Se funcionasse o sistema vigente desde o Brasil Império, que aposta em turmas pequenas de estudantes de medicina para cuidar de uma população imensa, o gargalo de acesso à saúde não deveria ter desaparecido no fim do primeiro quarto do século XXI?

No meio do caminho, uma elite intelectual e econômica – que não sabe o que é bater na porta de um hospital público e escutar da recepcionista que não tem médico no plantão – insiste em dizer que as novas universidades de medicina são um risco. Que o controle do ensino é impossível. Que os médicos que pretendemos formar não serão tão bons quanto aqueles formados pelas universidades públicas. O risco para o nosso povo não é seguir morrendo em filas por falta de atenção médica nos quatro cantos do Brasil?

Quando existe uma faculdade de medicina em uma cidade, a atenção básica é reforçada. Existe um ambulatório de especialidades que atende quem não pode pagar a consulta. Existe um hospital-escola que desafoga a fila das cirurgias. Existe a economia que gira ao redor do consumo de professores e alunos. Existe a conexão entre os alunos e a cidade. Existe a paixão, a ciência e o progresso.

Guarulhos precisa disso e nós, no ENIAC, estamos prontos para fazer acontecer!

Enquanto o Judiciário profere decisões divergentes sobre a liberação dos novos cursos e uma elite descolada da realidade faz uma pressão desleal nos tomadores de decisão dos órgãos reguladores, nós vamos seguir nos preparando. Mesmo em um cenário de insegurança jurídica e, consequente, econômica, vamos seguir investindo em nossa estrutura para abrigar a medicina. Criei o ENIAC por paixão pela educação, o fiz crescer apostando em dar oportunidade para quem tem vontade de realizar sonhos e não vou desistir de oferecer cuidado em saúde para a nossa comunidade. Mesmo em dias desafiadores, não podemos parar.

Vamuuuuuu!

Professor Ruy Guérios, reitor do Centro Universitário ENIAC

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