O combate aos pancadões em Guarulhos ganhará um importante reforço. O veículo já se mostrou eficiente na cidade de Itaquaquecetuba. Batizado de ‘Caminhão Tempestade’, trata-se de um blindado, similar a um caminhão-pipa, que joga jatos d’água e dispersa a multidão.
A iniciativa para Guarulhos veio pelo Delegado Gustavo Mesquita, conhecido como o “Inimigo número 1 dos pancadões” e responsável por inúmeras ações contra os eventos realizados no município.
“Venho estudando há muito tempo sobre esse tema que tanto tira o sossego dos guarulhenses e também é local para inúmeras práticas ilícitas, financiadas pelo crime organizado. O Tempestade trabalha na prevenção porque é bem desagradável receber água gelada de alta pressão e continuar num pancadão”, disse ele em entrevista ao HOJE.
Segundo Mesquita, ao chegar em um evento como esses o caminhão emite três alertas sonoros solicitando que os presentes dispersem. Na negativa, os jatos de água são iniciados. “Ele é um caminhão-pipa menor, porque precisa ter mobilidade para entrar em vias estreitas, e é adaptado para uso, além de ser blindado. A principal vantagem é o investimento mais baixo do que o custo para outros equipamentos não letais que temos. O Tempestade tem um efeito ostensivo e preserva a integridade física das pessoas”, explicou.
Guarulhos contou com uma emenda parlamentar do deputado federal Delegado Palumbo para a aquisição do caminhão. “Assim que apresentei a ideia ao prefeito Guti, ele aceitou, porém, tinha a questão da viabilidade econômica. Foi então que conversei com o Palumbo, que também é um combatente de pancadões, e ele conseguiu uma emenda de R$ 600 mil. Ainda assim seria necessário complementar, mas, a boa notícia é que o prefeito Guti conseguiu e em breve teremos esse importante equipamento para benefício da população”, destacou.
‘Guarulhos se tornou a capital dos pancadões’
No comando do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil de Guarulhos desde o ano passado, o Delegado Gustavo Mesquita tem se tornado um importante combatente dos pancadões.
“O combate ao pancadão surgiu como consequência do meu trabalho no cargo que ocupo em Guarulhos de delegado coordenador do GOE. Mas, o pancadão acabou trazendo uma projeção muito grande porque é algo que afeta demais a vida de todas pessoas, independentemente da classe social, mas sobretudo as mais carentes. Quando eu comecei a sentir isso e a testemunhar o quanto o pancadão tem sido um pesadelo na vida dos guarulhenses, encarei como uma missão”, destacou.
De acordo com Mesquita, a grande maioria das pessoas que hoje participam de pancadões em Guarulhos não são moradores da cidade. “Chegamos à conclusão que Guarulhos se tornou a capital do pancadão porque nesses eventos a grande maioria que frequenta vem de outras cidades como Arujá, Mogi das Cruzes, Itaquaquecetuba e São Paulo que vem para a nossa cidade fazer baderna. Como sempre digo, pancadão na casa dos outros é refresco”, afirmou.
Segundo Mesquita, o índice de criminalidade os pancadões é muito alto. “Temos a presença do tráfico de drogas, armas de fogos ilegais, motos que são furtadas e roubadas para desfilar nesses eventos, lavagem de dinheiro do crime organizado, corrupção de menores, prostituição e isso tudo é levado para onde isso acontece. O pancadão não é só uma perturbação de sossego, é um local onde simplesmente as leis não valem, o que vale ali é a lei do crime e isso a gente não pode permitir”, disse o delegado que ressaltou que o GOE chega a receber mil denúncias a cada final de semana de locais onde os eventos serão realizados.
O trabalho realizado pelo delegado visa a prevenção. Então, ao receber uma denúncia os policiais vão até o local antes do pancadão orientar a população e conversar com os comerciantes.
“Quem defende o pancadão como cultura sempre alega a atividade econômica como benefício para o local onde o evento é organizado. Porém, eu trago um testemunho que recebi de uma pessoa de uma das comunidades que disse que ao saber que teria um pancadão na rua dele, decidiu vender cerveja na garagem de casa. Quando começou, foi informado que não poderia vender nada na própria garagem porque todo o comércio deve ter uma autorização do crime organizado e repassar uma cota do lucro aos criminosos. Isso mostra que mesmo a oferta de produtos lícitos é controlada pelo crime organizado. O pancadão representa o império e poder do crime organizado ”, disse.
Resultados – “Os locais onde fizemos a prevenção não tiveram o pancadão naquele dia, mas também nunca mais aconteceu. Um desses lugares que é simbólico é o Baile do Coqueiro, no Jardim Santa Emília, que era o maior que tinha em Guarulhos. Foi um dos primeiros que nós fomos e o curioso é que o dono da adega responsável morava na Vila Galvão e nem lá morava. Nós fomos impedir aquele evento e ele nunca mais aconteceu, conseguindo, assim, levar a paz àqueles moradores”, explicou.
Segundo Mesquita a hostilidade sempre existe quando a equipe chega aos locais, mas o trabalho segue sendo realizado. “Uma vez fomos recebidos a tiros de arma de fogo quando chegamos na Comunidade das trilhas, no Jardim Marilena. Nesse momento o policial tem duas opções: retroceder ou avançar. Nós não recuamos e pacificamos aquele lugar. Nós vamos reconquistar a cidade para os guarulhenses de bem”, enfatizou.
Diferentemente do que muitos imaginam, o pancadão não ocorre somente na periferia. Segundo Mesquita, todas as regiões de Guarulhos apresentam esse tipo de evento. “Às vezes temos a sensação que somente na periferia tem. É fato que predominantemente ocorre mais nas periferias, mas também acontece nas zonas centrais. Nossa intenção é combater independentemente da classe social”, afirmou.
O inimigo número 1 dos pancadões em Guarulhos
Guarulhense, o Delegado Gustavo Mesquita está há 16 anos na Polícia Civil. Ele já atuou no GOE da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e também na Divisão Antissequestro – nesta última participou da operação que identificou e prender os criminosos da Gangue da Batidinha que atuava em Guarulhos. Os bandidos batiam na traseira de um veículo na rodovia Presidente Dutra e, quando o motorista parava para ver o que tinha acontecido, era vítima de um sequestro relâmpago.
Hoje, além dos pancadões, o GOE tem realizado importantes ações de combate a recepção em ferros-velhos irregulares, tráfico de drogas, roubos, furtos e demais crimes.
“Eu não vou parar com o combate aos pancadões, a perturbação de sossego e a criminalidade geral em Guarulhos. Para mim é uma missão trazer mais segurança para a nossa cidade e missão dada é missão cumprida”, finalizou.