O ex-presidente Lula completou neste sábado (14) uma semana preso na carceragem da Polícia Federal de Curitiba. O tempo foi suficiente para virar de ponta cabeça a rotina do departamento policial e seu entorno pela presença de imprensa nacional e estrangeira, de grupos de manifestantes a favor de sua prisão e acampamento de movimentos que pedem a sua libertação.
A brusca interferência na rotina do local fez com que policiais procurassem o juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, para pedir que Lula fosse transferido para outra prisão, de preferência fora do perímetro urbano. Moro, segundo a Folha apurou, manifestou disposição em deixá-lo onde está por mais um tempo. Mas uma mudança não está descartada.
Se policiais federais não querem Lula por perto, o diretor do Depen [Departamento Penitenciário do Paraná] diz que está pronto para receber o ex-presidente. Luiz Alberto Cartaxo Moura afirmou que já tem lugar reservado para o petista no Complexo Médico Penal de Pinhais, presídio que desde março de 2015 acomoda presos da Lava Jato. “O espaço para ele está pronto”, diz. Hoje a sexta galeria do presídio abriga 13 detentos enviados para lá por Sergio Moro.
Há condições de acomodar o ex-presidente Lula no Complexo Médico Penal?
– Sem problemas. O espaço para ele está pronto. Isso existe. Ele terá prerrogativas de ex-presidente. Ele pode optar pelo convívio ou pelo não convívio [com outros presos], porque não sabemos as consequências das inimizades que ele possa ter lá dentro. Então se ele quiser ficar isolado ou se quiser ter um ou dois companheiros de cela é possível também. Quem vai decidir isso [ficar sozinho ou com outros presos] é ele e a defesa dele.
Na Polícia Federal ele não tem possibilidade de estudar, possibilidade de trabalhar, possibilidade de ter remissão pela leitura [abatimento de dias de pena a cada livro lido]. A área que ele ficaria seria absolutamente segura.
Seria a sexta galeria?
– Tem uma outra opção, próxima [da sexta galeria]. Um espaço que existe lá há algum tempo e está desativado. Mandei reativar, está pronto. Se for necessário, será utilizado. O que me preocupa na decisão de uma remoção dele é o ambiente externo. Se eu tiver cobertura da Polícia Militar na área externa, não tem com o que me preocupar.
Aqui em Curitiba as nossas unidades militares estão em áreas residenciais. O mesmo problema que foi gerado na Polícia Federal [acampamento] irá ser gerado na frente dos quartéis se fosse conveniente mandá-lo para uma unidade militar. O Complexo Médico Penal passa a ser uma opção viável para evitar esse tipo de problema, porque está dentro do mato e há possibilidade de realizar um bloqueio e acomodar os movimentos sociais sem qualquer tipo de problema, desde que haja cobertura da Polícia Militar para isso.
O senhor já foi procurado sobre esse assunto?
– Já. Recebi uma consulta da Secretaria de Segurança hoje [quinta, dia 12] se seria possível custodiá-lo e eu falei que sim. Estou aguardando a decisão do juiz. O Sergio Moro vai precisar dele para outras audiências, porque tem pelo menos mais dois processos em andamento. Tem o do apartamento de São Bernardo e tem o do sítio [de Atibaia] também.
Desde quando o Depen se prepara para receber Lula?
– Desde quando começaram os julgamentos no Supremo a respeito do assunto, a gente tinha que estar preparado e nós tomamos providências práticas internas lá no CMP. Começamos a reservar um espaço que tem que ser separado dos demais, salvo se ele quiser ir para o convívio normal.
Como é a sala reservada?
– É uma sala sete de por quatro metros, cama, banheiro, mesa, cadeira, janela externa, coisa que ele não está tendo na Polícia Federal.
Houve dificuldade de adaptação da cadeia em relação aos presos da Lava Jato, em 2015?
– Não houve dificuldade de adaptação porque eles são mais fáceis de lidar. É muito pior você lidar com um líder do PCC do que com o presidente da República. O Lula é um santo perto de um cara desses. O Cunha é um anjo perto de um cara desses. Ele não tem potencial de violência, não gera preocupação. A preocupação que gera para nós é com cuidados em relação ao tratamento. Nem tanto mar, nem tanto a terra. Eu não posso permitir regalias em hipótese alguma, mas ao mesmo tempo eles são presos especiais que requerem outros cuidados por conta desta condição. Eu não posso permitir que haja uma falha de segurança e a gente perca um preso desses, por exemplo. Seja por alguém matar ou se o preso fugir, eu viro notícia internacional.
Quais foram as mudanças?
– Nenhuma. As celas foram apenas limpas e pintadas . A comida é a mesma, igual a de todo o sistema. Já havia sistema de banho quente. Sempre foi banho quente, porque é uma unidade médica.
Hoje a sexta galeria abriga que tipo de preso, além dos da Lava Jato?
– São presos idosos, cadeirantes, de colarinho branco e cíveis, que são os que ficam devendo pensão alimentícia. Não oferecem riscos.
Houve doações dos presos da Lava Jato para outros presos?
– Isso para o CMP inteiro. A sexta galeria é uma galeria limpa, arrumada, tudo em ordem, tudo cheiroso. Não tem cheiro de cadeia porque não se lava roupa lá dentro. Essa roupa úmida que não seca é que dá esse cheiro de cadeia, de bolor. Eles mandam lavar fora. A família leva e traz de volta. O sujeito usa durante a semana quatro camisas, três calças e está resolvido. A roupa íntima, meias e cuecas, eles ainda lavam. Mas lavam e já secam.
Eles têm as lideranças lá. Hoje parece que é o Cunha e o André Vargas que dão as cartas e todo mundo obedece e cada um faz o seu papel para ficar tudo limpinho e organizado lá.
Eles se adaptaram?
– Eles trouxeram a cultura de uma vida de hotéis cinco estrelas e residências de alto padrão e querem que aquilo se aproxime o máximo possível da realidade deles.
Há diferença ou privilégio na entrada de material ou alimentos para os presos da Lava Jato?
– O que diferencia é a qualidade [do que a família leva para o preso]. Bolacha, por exemplo, é permitida a entrada de seis pacotes de bolacha de até 200 gramas por semana. O preso pobre é bolacha Maria. O rico é Bon Gouter. Essa é a diferença. O pobre leva amendoim e o rico leva pistache.
Os presos da Lava Jato adquiriram linguagem ou gestual dos outros presos?
– Eles não foram submetidos ao convívio geral. O convívio deles é com eles mesmo, é uma situação bem diferenciada.
Reportagem: Wálter Nunes
Folhapress
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